sexta-feira, 20 de julho de 2012

Let it be

     Tive um sonho que parecia aqueles filmes franceses do século passado, com borrões na tela e áudio terrivelmente prejudicado, o conteúdo do sonho era de fato bom, apesar de não lembrar quase nada do mesmo. Tinha uma Mulher parada perto de uma ponte meio vermelha puxando para bordô, cor estranhamente melancólica ou até mesmo triste. Que seja isso não importa tanto, tinha também um poste de luz amarela e caia uma garoa fina e chata, daquelas que a gente só gosta nos domingos em que ficamos comendo pipoca e vendo algum filme de comédia romântica, daqueles tipos que idealizamos para acontecer na nossa vida. Não tinha vento, não tinha sons de carros. A mulher segurava consigo um punhado de cartas de cor amarelada, segurava contra o peito e olhava para o rio que cortava a ponte ao meio. Fiquei olhando sem interesse algum a mulher e seus movimentos. Assim como as tempestades que se formam do nada em tardes de verão, a mulher largou o guarda-chuva e segurou o bolo de cartas com as duas mão, colocou toda a força que tinha nos braços pequenos e fracos e arremessou as cartas no rio, no meio do trajeto a pequena e fraca fita que segurava todas as cartas se arrebentou, e as cartas voaram ao vento caindo aos poucos no rio. Pareciam pássaros livres por momentos de total solidão. A mulher agachou-se e pegou seu guarda-chuva, deu um pequeno sorriso com o canto da boca, talvez feliz por ter se livrado de todos essas cartas, não se sabe se as cartas eram de amor ou se eram contas de bancos, talvez fossem até fotos em envelopes. Mas de uma coisa eu tive certeza nesse sonho: a mulher parecia limpa, sem lembranças e sem sentimentos, em estado completo de liberdade. A mulher olhou em volta para ter certeza que ninguém estragaria o momento perfeito dela, quando teve certeza de que estava totalmente sozinha largou o guarda-chuva mais uma vez para nunca mais pego-lo, subiu no pequeno murinho da ponte e se lançou igual as cartas, em um pulo de total desespero. A liberdade em fim terminara, ou por outro ponto de vista... acabara de começar.

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